Amy, the manicure

NY city. Em cada esquina, um salão de estética especializado em manicures/pedicures e depilações. Invariavelmente, geridos por asiáticas ou latino-americanas. Nem umas nem outras se expressam bem em inglês, pois desde que chegaram aos EUA em busca de uma vida melhor (mais poluída, mais urbana, mais degradada, mais racista) vivem entre os seus, em excluídos bairros nos arredores pobres da cidade.
No Domingo fui ao salão asiático perto de minha casa. A Amy (nome americanizado, pois claro) até falava inglês. Entre limar unhas e eliminar cutículas, a Amy vai olhando pela janela. O seu olhar detém-se num casal com um carrinho de bebé. E então discorre sobre o facto de hoje em dia as pessoas terem filhos cada vez mais tarde. Que é verdade. Que uma cliente sua, imaginasse eu, tinha tido um filho com 50 anos. O marido tinha 45. Que tinha sido in vitro, claro. Que ela devia ter dinheiro, com certeza tinha muito dinheiro, porque o que é que um homem de 45 anos ia querer com uma mulher de 50? E que outra cliente tinha tido o primeiro filho aos 45, e depois continuou os tratamentos para ter mais e ainda teve gémeos. Também in vitro, que isso dá logo gémeos e trigémeos. E o marido já tinha dois filhos do primeiro casamento. Que não entendia porque uma mulher de 45 anos ainda queria ter filhos. Para quê ter filhos com essa idade, se o marido já vinha assim pacote completo? Enfim, se fosse ela, com 45 anos queria era ir com o marido passear pelo mundo. Eu fiquei a pensar naquilo do pacote completo e no será que os anúncios nas revistas cor-de-rosa estariam adaptados aos tempos que correm ... "Cinderela moderna procura prince charming para vida a dois. Carinhoso, alegre e aventureiro, de preferência alto, moreno e com filhos de anterior casamento."