the jazz joint

Chovia torrencialmente e decidimos meter-nos no primeiro táxi que nos apareceu.

Quando finalmente chegámos ao nosso destino, já não chovia. Os reflexos nocturnos - candeeiro de rua, táxi que passa, montra iluminada aqui, semáforo ali - imprimiam-se desmaiados no asfalto molhado.

Olhámos para o outro lado da rua, para o néon de letras pretas em fundo vermelho que nos confirmava que era ali o Saint Nick's Pub - no Harlem, in the corner of Saint Nicholas Av. with 149th street.

Atravessámos a rua e partilhámos uns breves segundos de silenciosa hesitação em frente à entrada manhosa e decrépita.

Quando abrimos a porta, senti que estávamos a entrar num Harlem de outros tempos.

À nossa frente, um corredor com pequenas mesas encostadas à parede de um lado e um longo balcão de bar do outro lado. O corredor abre-se num espaço mais amplo - não muito mais amplo, o suficiente para dispor umas 4 ou 5 mesas e uma pequena área de palco.

O lugar estava vazio, com a excepção dos inevitáveis clientes da casa - meia dúzia de personagens instalados ao longo do balcão.

Éramos os únicos branquelos, aparte um casal (com ar de eruditos do jazz) que ocupava uma das mesas laterais.

As coberturas de plástico nas mesas, as luzinhas de natal emaranhadas por cima do palco, a instalação eléctrica a desafiar as leis da gravidade, o telefone de parede desligado, a juke box a destoar, as cadeiras de dobrar, plásticas, desemparelhadas, a idade e a roupa do patrão ...
This was not a fancy place, this was a jazz joint!!

Os músicos foram chegando, ocuparam o pequeno espaço que lhes servia de palco. O patrão diminuiu a luz e a sala transformou-se - o que antes me parecera roçar a fronteira do kitsch, deu lugar a um ambiente suave e intimista. E o antro foi enchendo até não sobrarem lugares nas mesas e ficarem pessoas em pé.

Depois de um breve momento de apresentação, o jazz irrompeu sem cerimónia.

Gostei do ambiente autêntico, adorei essa total ausência de cosmética e o jazz despreocupado.
Saint Nick's Pub ... 'the jazziest corner in the world'.