Pânicos II

A rafaela a. passou-me a corrente ... 5 pânicos!

Ora então ... riam-se pr'aí à vontade:

1 - Pânico das alturas

Escarpas, escadas sem corrimão, escadas através das quais se pode ver para baixo (porque os entre-degraus são abertos), escadas muito a pique, declives, subidas íngremes e inclinadas ... Não fico com tonturas, nem tenho vertigem. Não, não é isso. Nem sei bem o que sinto, só sei que tenho um medo horrível e em cima desse medo (vejam bem, medos em formato massa folhada) tenho ainda o medo de paralisar e não conseguir dar nem mais um passo, nem para trás nem para a frente.

Algumas situações:

San Gimignano (Toscana, Itália) - também conhecida como Manhattan da Idade Média, lindíssima e imprescindível, passagem obrigatória. Dizem-nos que da torre mais alta se tem uma vista impagável, os amigos querem subir e eu (a pensar nas fotografias magníficas que me esperariam lá em cima) decido subir também. À medida que ia subindo, a sensação de altura apoderou-se de mim, olhei para baixo (as escadas eram das tais com degraus abertos, e os próprios degraus eram em malha metálica, raios! ... via-se tudo para baixo!) e começou a apoderar-se de mim a sensação de pânico ... lentamente ... em crescendo ... quando os lanços de escadas se transformaram numas antigas escadas de pedra, encaracolando a pique até à torre, sem corrimão, tiveram de empurrar-me para eu subir o resto ... Sim, depois do esforço de subir mais de mil degraus, não ia desistir naquele momento, não era? O pior foi depois, para descer ...

Jericoacara (Brasil) - para turista ver há um spot especialíssimo onde o pôr-do-sol se escoa por um buraco num rochedo em forma de agulha (mais coisa menos coisa, é essa a visualização que posso oferecer-vos) ... lá vamos todos de buggie (com emoção? pergunta o buggeiro ... dunas inacreditavelmente íngremes, duna acima duna abaixo ...) e deixam-nos numa praia ... fazemos um par de quilómetros, até ao spot ... que, by the way, era onde acabava a praia, porque dali para a frente eram só rochedos, o mar batia directamente na escarpa ... logo nesse dia, não houve grande pôr-de-sol, azar, estava um pouco enevoado. O cenário era imponente ... os rochedos a rebrilhar à luz de um sol peneirado pelas nuvens, a praia selvagem, o mar de frente, uma escarpa atrás ... belas fotos!! ... não digitalizadas, não posso portanto ilustrar e vejo-me limitada às palavras que nunca consigo que façam jus ao que descrevo ... Para ir embora, pensei que íamos fazer o caminho todo para trás até ao ponto de encontro com o buggie ... o coração desatou a bater aceleradamente e senti falta de ar quando comecei a perceber que íamos ter de subir a escarpa, que já não havia buggie nenhum de volta, o máximo que havia eram uns burricos que não me inspiraram a mínima segurança ... ainda agora, só de estar a descrever o momento, sinto ecos do pânico que me assaltou ... Bem ... tenho a dizer-vos que fui a primeiríssima a chegar lá acima !!! ... o medo era tanto, mas tanto, que mal iniciei a subida (não consigo descrever-vos o íngreme que era, com pedrinhas que se soltavam e rolavam até lá abaixo, e os pés a resvalar ...) parecia que tinha pilhas e que toda a vida tinha feito alpinismo ... subi sem parar, com um único objectivo a guiar-me os passos e a evitar resvalos, sempre a olhar para o alto da escarpa, sempre em frente ... se eu tivesse parado, teria paralisado ... sem retorno ... e não haveria burrico nem palavras que me demovessem dali ... teriam de anestesiar-me com um cocktail de lexotan com valium, esperar que eu adormecesse e levar-me em braços ...

2 - Pânico dos aviões e avionetas

Sobejamente conhecido dos leitores deste blog ... ;-))

A propósito ... o voo Maputo-Vilanculos (que me obrigaria depois a um transfer Vilanculos-Bazaruto numa avioneta de 9 lugares) foi cancelado e nós acabámos por comprar bilhetes de outra companhia, cujo voo era directo Maputo-Bazaruto e em vez de 9 lugares fez-se numa avioneta-avião de 30 lugares ... o meu pânico dos aviões não deixou de manifestar-se, mas sei que teria sofrido ainda mais na outra avionetazinha!

3 - Pânico de insectos (acho que só as moscas mesmo é que não me impressionam, essas só me irritam), rastejantes, baratas, cobras, morcegos, borboletas da luz, aranhas, ratos, e todos os bichos passíveis de enquadramento nesta ampla categoria

... coisas de mulher, que hei-de dizer?

4 - Pânico da morte

... dos meus Pais, em pânico mais agudo ... de todos os outros, os que me são queridos ... da minha, apenas nos aviões ...

(ou quando penso - em raros momentos de uma levíssima e saudável hipocondria - que estou gravemente doente ... eheheheh!)

5 - Pânico do pânico

Este é o grande last but not least ... Tenho pânico que o medo e o pânico me limitem, me impeçam de viver e experimentar, me tolham e me retraiam ... Não quero deixar-me vencer pelos meus pânicos e medos, gostaria de fazer-lhes frente, mandá-los às urtigas, processá-los e digeri-los como irracionalidades que são ... Adoraria conseguir saltar de para-quedas ou de asa-delta (como fez a minha amiga S, super-radicaaaal!), fazer bungee jumping, trekking e rappel, entrar em cavernas cheias de morcegos, pegar em centopeias sem pestanejar (como fez a J em Kruger), de poder imaginar uma viagem ao sudeste asiático (por exemplo) sem estar a preocupar-me com a inevitabilidade de ter de conviver com bicharada viscosa e horripilante (monstruosidades nascidas da humidade do clima) ... e, claro, gostaria de viajar de avião e avioneta sem pânicos! :-)

Não passo esta corrente a ninguém, pode haver por aí bloguistas com pânico às correntes! Mas ... quem quiser dar continuidade, faça o favor ...

...