Friday, April 28, 2006

A propósito de FADO

... um dia recebi o seguinte e-mail, de uma amiga em Londres:
O jornal 'metro', que como podem imaginar é distribuído gratuitamente no metro, apresenta como o 'gig of the week' a nossa Mariza, que descreve como 'the world's first fado superstar'. Pobre Amália, deve-se estar a revirar no túmulo!
Logo a seguir apressam-se a acrescentar: '... if such a term can be used alongside a form of music rooted in Portuguese peasant laments, African slavery and 19th century seafaring songs'.
Vocês desculpem-me a minha ignorância mas não conhecia esta influência da escravidão no fado!
Comentem por favor!
M.
... ao qual retorqui:
Eu também não sou muito versada em fado ... e não vou portanto pronunciar-me quanto às raízes dessa 'form of music'. Mas creio poder extrapolar, com alguma imaginação, que os escravos seriam a última coisa em que o mulherio de Alfama pensava ... talvez remoessem a falta de pão, o amante cheio de promessas falsas, ou o marido cheio de tinto a distribuir pontapés pela catrefada de filhos, atacados pela tuberculose, minados pela humidade inerente ao casario sem condições ... mas lamentar a triste sorte dos escravos? ... seria mesmo isso que inspirava as letras e a dor do fado? ...
Ressalvo que não sou muito versada em fado.
Who else could contribute insightfully in relation to the why's and how's of our fado culture? Eis, cara M., a pergunta que fica a pairar ...
(Sinapse)
... depois (sempre depois!!) fui investigar:
Eu e a M. éramos jovens, não pensávamos ... e não conhecíamos ainda esse manancial de informação online que é a Wikipédia.
Looking back, temos de reconhecer à revista 'metro' a seriedade e atenção que foram dadas ao artigo sobre a Mariza!
E agora ... silêncio ...

21 Comments:

Blogger 125_azul said...

Pois, canta-se o fado...
Antes ou depois, descobriste, não é? Silêncio...

28 April, 2006 23:46  
Blogger patchouly said...

Imagino que o fado tenha um peso bem maior quando se vive fora do país... Eu até gosto, mas passam-se meses que não ouço.

29 April, 2006 00:37  
Blogger rafaela said...

Deve ser porque a mariza tem um ar mesclado, quando digo mesclado digo com um pé na sanzala.
=)

29 April, 2006 09:33  
Blogger rafaela said...

Atenção "ar mesclado" não é um termo depreciativo, só pro caso.

=)

29 April, 2006 09:34  
Blogger rafaela said...

Sinapse perdoa-me o rol de comentarios, mas acabei de lembrar-me, a minha avo que era Africana cantava lindamente fado, passava a vida a cantar enquanto fazia as suas tarefas, mas o que me parece é que o fado foi levado para Africa, não nasceu em Africa, nem sofreu influencia africana. Apareceu lá como produto já acabado.

***

29 April, 2006 09:38  
Blogger Nelson Reprezas said...

Não creio que o fado tenha raízes na escravatura. A escrvatura poderá ter influenciado outros fenómenos como alguma música, não o fado, a música e, claramente, o casamento :)
Beijinho e bom fim de semama

29 April, 2006 11:04  
Blogger Nelson Reprezas said...

lá em cima, a seguir a "não o fado" deverá ler-se literatura e não música...

29 April, 2006 13:29  
Blogger Pitucha said...

Querida Sinapse
Antes de mais obrigada pelo teu link.
Depois, como já viste, não se sabe bem a origem do fado. Poderá ter, de facto, uma origem africana. Mas dado que ser africano não é propriamente sinónimo de ser escravo, não é muito claro que a origem esteja nos escravos africanos. Agora, se tem origem africana, parece natural que os escravos cantassem fado ou algo parecido!
De qulquer modo, toda a gente sabe que os britânicos não são o povo mais culto do mundo. Tudo o que saia da ilha é exótico demais para eles...
E este comentário foi escrito ao som fabuloso da Amália.
Beijos

29 April, 2006 14:59  
Blogger Luzinha said...

Sinapse, eu qd li o teu texto tb achei mt estranho mas fui pesquisar na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e fiquei estupefacta com o que descobri! O texto é bastante longo, mas para se perceber, não deu para encurtar... ...Bjinhos e Bom fds :)))

«Lundum: Na sua origem, o lundum teria sido um baile nocturno e supersticioso dos negros da África Ocidental, dançando só por mulheres ao som de instrumentos de alarido infernal (atabaques, pandeiros, botijas e castanhetas). Transportado daí para o Brasil, com escravos negros, ter-se-ia desenvolvido e evoluído, especialmente na Baía, convertendo-se em dança mestiça e por fim brasileira; do Brasil teria vindo para Portugal trazida, como outras danças do mesmo quilate, pela marujada da carreira entre a metrópole e aquela colónia, além de pelos próprios escravos e outros nativos. dança chula do Brasil em que as dançarinas agitam indecorosamente os quadris, acompanhando com os seus movimentos o compasso da música. Com Caldas barbosa, o lundum, se não era cantado já, passou todavia a sê-lo, com a letra que ele aplicou a melodias, já em voga ou da sua expressa composição também, no ritmo caractrístico do género. O meigo lundum gostoso de Caldas, como o doce lundum chorado a que Tolentino se refere, seriam porventura variedades mais decentes, de requebro sensual mais comedido, ou mais exasperadas simentais (...)»

«Fado: É fora de dúvida que em começos do séc. XIX existia já no Brasil, como dança popularíssima, o fado, que um emigrado português, vendo-o «bailar» em 1819, achara todavia corresponder ao que em Portugal se denominava lundum. Sendo porém o fado músicalmente inconfundivel com o lundum, forçoso é reconhecer que esta possível diferenciação do lundum brasileiro em fado continua ainda assaz misteriosa, apesar dos mais recentes progressos da musicologia de aquém e de além-mar; e idêntico mistério subsiste quato à origem do nome, adivinho porventura da cantiga alusiva ao fado - destino ou sorte - de quem sofre tormentos da vida ou do amor. Oriundo assim do Brasil, onde possivelmente, além de tocado, cantado e dançado de maneira decente, se teria apresentado também já na modalidade desbragada que é o fado batido (batendo-se os dançantes com a barriga, quando não é só um bate contra qualquer obstáculo ou contra outro dançante que aparava a pancada), o fado teria vindo para Portugal, se não já a pouco tempo com a marujada que o introduzira em Alfama, decerto que com o regresso da Côrte (Março de 1822), espalhando-se, desde então, nas suas quatro referidas modalidades, pela capital, tornando-se moda e destronando no gosto geral o fandango, o lundum e as outras danças e canções populares. A divulgação do fado não é só em Lisboa, como por todo o país, no Porto, em especial, em cujos botequins e bordéis era batido e cantado como em Alfama, e em Coimbra, onde os estudantes, sentimentalizando-o a seu modo, o difundiram por todas as vilas e aldeias das províncias. Seja como for, caso é que em 1833, ao estabelecimento definitivo do regime liberal, existiam em Lisboa, disseminadas pela cidade, casas de fado onde moravam fadistas, «piquenas» ou «moças» que cantavam, tocavam e batiam o fado, as quais, por medida de moralidade pública, foram mandadas acantonar em bairros privativos (Alfama, Mouraria, etc.). É deste âmbiente confinado, de bordel e navalha, onde por certo se abandalhara, que entre 1838 e 1840, pela mão do conde de Vimioso, com a Severa, sua amante, por musa até morrer, o fado irá sair; e através das esperas dos toiros e das pândegas boémias, reconsquirá Lisboa, penetrando nos salões aristocráticos e democráticos, e presseguirá pelo resto do País, em Coimbra onde o estudante, depois dr. José Doria com o seu fino gosto e a sua vituosidade maravilhosa na viola de arame, lhe dará fulgor especial, sobretudo na variedade específica que já recebera o nome de fado de Coimbra. Evidentemente que a cultura incessante do fado suscitaria a criação poética e musical, bem como a virtuosidade na execução. Assim foi aparecendo letra em verso de toda a espécie de versejadores, predominnado certamente os populares, de rudimentaríssima cultura, embora acusassem por vezes surpreendente estro poético e admirável perfeição métrica. De resto deve observar-se que a voz adequada ao canto do fado é uma voz de características especiais, e que a arte de cantar o fado não se aprende em nenhuma escola de música, surgindo os cantadores e cantadeiras por toda a parte. Por muito que se tenha escrito pró e contra, forçoso é reconhecer, todavia, que o fado não tem sido aindadevidamente estudado, sobretudo no seu basilar aspecto musical.»

29 April, 2006 19:18  
Anonymous Anonymous said...

fado e portugal na voz, dos poetas que se alevantam e dos homens que se fzem mais grandes. a proposito as ruas de londres, quer dizer chelsea, rejubilam gracas a esse portugues maior que e o mourinho. viram-no na hora da vitoria com o cachecol de portugal? e destes que eu gosto, que gostam da terra, que nao tem vergonha dos simbolos , que tem saudade todos os dias do que somos como povo...viva o fado.

29 April, 2006 20:11  
Anonymous Anonymous said...

nasceu de ser portugues. fez-se a vida pelo mundo. foi pelo sonho vagabundo. foi pela terra abaracado. bem querido ou mal amado. o fado. viveu de ser portugues. foi alegre e gingao. por um fado e cancao. por ser futuro e passado. mal querido ou bem amado. o fado. cada vez mais portugues. anda nas asas do vento. as vezes solta um lamento. e pede para ser achado. ele e querido, ele e amado. o fado.....paulo de carvalho... Mariza

29 April, 2006 20:52  
Anonymous Anonymous said...

amalia
quiz deus que fosse o meu nome
amalia
acho-lhe um jeito engracado
bem nosso e popular
quando oico alguem gritar
amalia
canta-me um fado
jose galhardo, frederico valerio, amalia

29 April, 2006 20:55  
Blogger inBluesY said...

pois do fado e da mariza não me pronúncio ...:(


eu disse-te na altura q a foto era me muito querida ... e voltará a aparecer :)

bjs

29 April, 2006 22:19  
Blogger Sinapse said...

Luzinha, obrigada por esta visita tão prendada!
Gostei especialmente de ler esta parte:
É deste âmbiente confinado, de bordel e navalha, onde por certo se abandalhara, que entre 1838 e 1840, pela mão do conde de Vimioso, com a Severa, sua amante, por musa até morrer, o fado irá sair; e através das esperas dos toiros e das pândegas boémias, reconsquirá Lisboa, penetrando nos salões aristocráticos e democráticos, e presseguirá pelo resto do País, em Coimbra onde o estudante, depois dr. José Doria com o seu fino gosto e a sua vituosidade maravilhosa na viola de arame, lhe dará fulgor especial, sobretudo na variedade específica que já recebera o nome de fado de Coimbra.
... porque era realmente mais ou menos assim que eu imaginava as origens do fado. Tenham ou não sido essas as origens ... para mim já não importa, continuarei a imaginar o fado a nascer nos becos dessa Alfama e Mouraria, entre bordeis e navalhadas!
Tudo o resto é fado ... democratizou-se, elevou-se!

Beijinhos,
Sinapse

29 April, 2006 23:30  
Blogger papoilasaltitante said...

Estou como tu... Fado...bordeis navalhadas ... Severa...


Beijinhos

29 April, 2006 23:54  
Blogger Sinapse said...

125_azul, eu diria mais ... sente-se o fado.
Não quero com isto dizer 'eu' (porque sendo verdade que de quando em vez posso ouvir Amália, a verdade é que não sou uma apreciadora como a Pitucha poderá ser) ... mas quem o canta e quem o ouve, geralmente sente-o!


Patchouly, o post da Pitucha [clicka em silêncio] é que explora bem esse sentimento ... e os comentários ao post também são interessantes, já que vários 'expatriados' descrevem esse mesmo sentimento.


Rafaela, parece que as opiniões divergem quanto à influência africana no fado ...


Espumante, deixa-me recapitular ... a escravatura influenciou o casamento, e a ... bom, 'tá bem, nem digo mais nada! ;))


Pitucha, por vezes penso que o fado de Amália foi o último fado ...


dakidali, eu diria sentimento em vez de sofrimento ...


Cães Trastes (o nacionalista e os só Cão Traste), vejo bem que o fado despertou em ti momentos de inspirada prosa! E de rima também!
;)))


InbluesY, vais divulgar outra vez a foto? Ainda fico famosa, com tanta divulgação! eheheheheh! :)

30 April, 2006 00:28  
Blogger Sinapse said...

Papoila, é isso tudo! :)

30 April, 2006 00:30  
Blogger dora said...

A "never ending super fim de semana"!

30 April, 2006 02:11  
Blogger MJ said...

Ola!
Eu ca interpreto o artigo de uma outra forma, o fado que a Mariza canta, tal como ela faz questao de sublinhar tem influencias da sua familia e infancia, ou seja, de Africa. Por isso parece-me que no artigo se estariam a referir nao ao fado em geral mas ao fado que ela canta em particular.
Beijinhos
PS- Desculpem a falta de acentos, hoje estou num teclado sem eles!

30 April, 2006 16:00  
Blogger Sinapse said...

Dorab,
:)


MJ, obrigada pela visita (ou Welcome to Postais de BXL, como costumo dizer) e pela "achega" - parece-me fazer mt sentido o que dizes!

30 April, 2006 19:46  
Blogger K'os said...

silêncio...que se vai ouvir o fado

não sei falar acerca de fado/ mariza

sei apenas que sem esforço e dedicação seja em que arte for não se atinge o objectivo a que se propõe

:)

01 May, 2006 13:03  

Post a Comment

<< Home

Newer›  ‹Older